Neste dia Mundial da Menopausa, a Dra. Fernanda Geraldes, presidente da secção portuguesa de menopausa da SPG, apresenta-nos a sua perspetiva sobre esta fase tão importante na vida das mulheres.
"Faz sentido haver um dia no calendário destinado a esta celebração? Sim.
Em primeiro lugar é importante pensar que nos últimos 60 anos, em Portugal a esperança de vida da mulher passou de 66,4 anos para 83,4 anos (Pordata 2020) o que quer dizer que mais mulheres chegam a esta fase e que nela permanecem durante mais de um terço da sua vida. No último Censo que se realizou em 2021, a população feminina com mais de 45 anos, que representa as mulheres na perimenopausa e menopausa somou 2 854 246 o que representa (52,5%) das mulheres portuguesas. Em conclusão temos mais de metade da população feminina em perimenopausa/menopausa.
Em segundo lugar, a menopausa tem sintomas e alguma patologia crónica associada que interfere de forma negativa na qualidade de vida da mulher.
Assim num inquérito realizado às mulheres com idades entre os 45 e os 60 anos residentes em Portugal Continental e Ilhas, tivemos oportunidade de saber o que sentem. Assim o inquérito revelou que a menopausa quando apresenta sintomas afeta negativamente a vida da mulher do ponto de vista profissional, mas também pessoal, com 80% a apresentarem sintomatologia vasomotora (SVM), 66% a terem alterações do sono, 24% dor nas relações sexuais e 23% a sentirem redução do desejo sexual.
Mais de metade (57%) afirmaram que os sintomas interferem com a vida diária. Sobre os aspetos da vida pessoal mais afetados, 22% referiram a vida familiar e conjugal, 20% a vida sexual e 14% a vida social. As mulheres também revelaram os seus receios, sendo que o aumento de peso é o sintoma associado à menopausa que as mulheres mais temem, apontado por cerca de 46% das inquiridas, logo seguido da ansiedade /depressão e só em terceiro lugar a sintomatologia vasomotora. O medo de cancro e da osteoporose surge em quarto e quinto lugar e o envelhecimento aparece em sexto lugar.
Em terceiro lugar e a não desvalorizar, a menopausa apresenta custos económicos e sociais, sobretudo numa fase da vida da mulher em que cada vez mais lhes são atribuídas responsabilidades profissionais exigentes. Segundo o mesmo inquérito, cerca de um quarto das mulheres na menopausa referem que os sintomas interferem na atividade profissional e em 5% condicionam mesmo absentismo laboral.
Perante tudo o que foi referido, como podemos ajudar? O que podem as mulheres esperar de nós, comunidade científica? A resposta é que temos muito para oferecer e ajudar as mulheres nesta fase da vida.
A Sociedade Portuguesa de Ginecologia nomeadamente através da Secção de Menopausa tem se debruçado muito sobre este tema e sobre as abordagens farmacológicas e não farmacológicas recomendadas à luz da evidência científica atual e de todas as recomendações das Sociedades Científicas Internacionais. Para cumprir esse objetivo publicou uma atualização do Consenso Nacional de Menopausa em dezembro passado.
Assim quando a mulher tem sintomas vasomotores temos à nossa disposição a terapêutica hormonal que é a mais eficaz já que para além do tratamento dos sintomas, faz também a prevenção da osteoporose e em alguns casos a prevenção cardiovascular. É um tratamento seguro à luz da evidência científica atual desde que sejam cumpridas as indicações e contraindicações conhecidas. No caso de não poderem ou não desejarem este tipo de abordagem temos ainda à disposição as terapêuticas não hormonais.
Em relação à síndrome geniturinária da menopausa (SGUM), antes denominada atrofia vulvar e vaginal, temos à disposição um leque variado de opções terapêuticas desde cremes vaginais apenas hidratantes, a cremes de estrogénios, comprimidos vaginais de estrogénios, óvulos vaginais de desidroepiandrosterona (estrogénios e androgénios) e em breve também comprimidos orais de um SERM. Sabemos que a SGUM é o 2o sintoma mais frequentemente associado à menopausa e por condicionar secura vaginal, relação sexual dolorosa com consequente diminuição do desejo sexual interfere em muito com a qualidade de vida destas mulheres. Estes tratamentos locais/vaginais poderão ser realizados de forma isolada ou em associação com a terapêutica hormonal sistémica. Contrariamente à TH sistémica não há limite de tempo de utilização podendo ser para toda a vida já que a absorção sistémica é desprezível.
Por último, mas que é sempre a primeira abordagem, uma palavra para incentivar a alteração de hábitos e promover estilos de vida saudáveis partindo do princípio que nunca é tarde demais para recomeçar. A cessação tabágica, a moderação do consumo de álcool, promoção de hábitos alimentares saudáveis e a prática de exercício físico regular devem ser uma prioridade sobretudo nesta faixa etária em que o ambiente hormonal (falta de estrogénios) que protegiam a mulher na fase pré menopausa de eventos cardiovasculares, é desfavorável.
Em conclusão, neste dia Mundial da Menopausa de 2022, uma palavra para nós médicos vamos estar mais atentos e ter uma atitude mais proativa na abordagem destas mulheres na menopausa utilizando os meios farmacológicos e não farmacológicos que temos à nossa disposição. Vale a pena investir para promover a qualidade de vida nesta fase às muitas mulheres que temos na menopausa em Portugal. Vamos receber em Lisboa nos dia 26 a 29 de Outubro, o Congresso Mundial de Menopausa promovido pela IMS (International Menopause Society) e estaremos atentos a todas as novidades e aos debates científicos que enriquecerão com toda a certeza o nosso “saber” nesta área.
Para as mulheres, o meu conselho é que recorram ao médico e que falem abertamente daquilo que as preocupam e que não vejam esta fase da vida como um fim de linha que não é. Como o nome diz “menopausa” é a pausa da menstruação e da capacidade de procriação, mas não é pausa para mais nada nomeadamente para a sexualidade.
Se se ganhou a batalha de viver mais, há que se fazer um esforço para se viver com qualidade.
A alteração dos estilos de vida nomeadamente a cessação tabágica, alimentação adequada e a prática do exercício físico regular deve ser a primeira aposta nesta fase e que está acessível a todas as mulheres."