Anónimo
Tenho 38 anos, tenho adenomiose e suspeita de endometriose.
Quando tive as minhas primeiras menstruações, aos 14 anos, vomitava, ficava de cama e não me conseguia mexer, a minha ginecologista da altura, e infelizmente de muitos anos, receitou-me contraceção hormonal e disse que era tudo normal.
Com a toma da pilula deixei de ter dores mas também deixei de sentir libido, o que me roubou de certo modo da minha adolescência, outra consequência foram os estados depressivos que me levaram a duvidar de mim, do meu valor e vontade de viver.
Aos 21 deixei a pilula, comecei a aceitar a depressão, senti libido pela primeira vez e as dores voltaram, dores fortes, dores que deixavam incapacitada e muito fluxo.
Mais tarde andei numa troca de ginecologistas, a maioria tratou-me muito mal e insistiram sempre em receitar-me tratamentos hormonais diferentes que voltavam a fazer com que o meu estado depressivo deteriorasse e ficava também sem líbido.
Aos 33/34 fui finalmente diagnosticada por um ginecologista que me fez muita pressão para congelar os meus óvulos, apesar de não ser o meu desejo.
Fui pedir uma segunda opinião dentro do mesmo hospital, o médico pediu-me uma ressonância que confirmou adenomiose e suspeita de endometriose, no entanto só queria proceder com uma cirurgia, sem me dar opção de uma escolha informada, não me informou que a cirurgia não cura.
Fiquei mais 2 anos sem ir ao médico, li muito sobre o assunto, fiz escolhas informadas, comecei a fazer fisioterapia pélvica, acupuntura e dieta, os sintomas melhoram e ganhei coragem para pedir mais uma opinião. Fui a mais uma especialista em endometriose, que me fez repetir os exames, disse que eu inventava sintomas e que era tola por não tomar a pilula. Expliquei que a escolha entre depressão, falta de líbido e dor a dor física era mais fácil de gerir e aceitar, devo referir aqui que ao longo do anos tentai várias opções hormonais sempre com o mesmo efeito. A médica insultou-me disse que eu era louca e que precisava de um psiquiatra.
24 anos depois estou com o ginecologista da minha mãe, tem uma visão antiquada da endometriose a adenomiose, é da opinião que ter filhos ajudaria, mas respeita a minha decisão, respeita que eu não tome a pilula e sabe que só deverei ser operada num caso mais extremo, até porque a cirurgia não cura a endometriose.
Sei viver com dor, prefiro a viver sem sentir, a viver com depressão, sem desejo, sem sexo. Faço terapia, já falei com uma psiquiatra e desde que deixei de fazer tratamento hormonais deixei de ter depressão. São 24 a ser mal tratada e insultada por médicos, a sensibilização tem de ser junto à classe médica, as escolhas têm de ser informadas e uma paciente menos grave não deixa de ser uma paciente.
É cansativo que ninguém acredite em nós, é cansativo ser chamada de maluca, é cansativo querem sempre operar-nos como para justificar o propósito do médico e não do doente, é cansativa a justificação constante, é cansativo a paciente nunca vir primeiro.