À luz do Dia Internacional da Mulher, assinalado anualmente a 8 de março, por decreto das Nações Unidas desde 1975, conversámos com a Dra. Fátima Faustino, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia. Partilhamos aqui as suas perspectivas sobre os desafios e conquistas na vida e saúde das mulheres e o papel vital da medicina ginecológica nesse âmbito.
1. Considera importante assinalar o Dia Internacional da Mulher?
Sem dúvida que é uma data a assinalar para que não se esqueça a luta das mulheres contra os preconceitos, reivindicando os seus direitos, melhores condições de vida e todas as conquistas conseguidas ao longo dos anos.
2. A SPG tem como missão o desenvolvimento científico em prol da saúde da mulher. Quais são os pilares deste propósito e qual o papel determinante que a SPG pode ter no seu cumprimento.
A SPG aposta no desenvolvimento da especialidade em prol da saúde da mulher, não só na vertente cientifica estimulando a atualização de conhecimentos e investigação, como também na vertente ética e social, mantendo uma postura aberta à mudança.
3. A literacia da população na área da saúde é um factor charneira para a melhoria significativa da saúde da mulher? Como é que a SPG pode contribuir?
Apesar de muita informação disponível on-line, receio que nem toda possa contribuir para a melhoria da literacia na área da saúde da mulher e faz parte da nossa missão contribuir para a educação nesta área, filtrando alguns conceitos menos corretos.
4. Neste momento actual, quais os principais pontos que considera serem alvo de reflexão quer pelos organismos quer pela comunidade médica?
Debatemo-nos com uma crise no Serviço Nacional de Saúde, que não podemos ignorar, relacionada com uma escassez de recursos humanos ou uma má gestão dos mesmos. E apesar da comunidade médica há muito ter alertado para este facto, muito pouco foi feito pelos vários organismos governamentais para a evitar, sendo motivo para nossa apreensão.
5. “Ageism”, “well aging” entre outros termos, são temáticas atuais e que pressionam socialmente maioritariamente as mulheres. Qual a sua opinião?
“Ageism” envolve estereótipos que discriminam e prejudicam as pessoas, baseados na sua idade e as mulheres são um alvo fácil que importa combater.
Por outro lado, “well aging” é a habilidade de manter uma função física, mental e cognitiva saudável apesar do avançar da idade e se realizado de forma equilibrada e sem excessos deve ser defendida. Neste contexto, para além de uma atividade física regular, um bom controlo do sono e uma alimentação saudável, devemos estimular a população em geral e as mulheres em particular a realizarem a sua visita regular ao médico e o despiste precoce das patologias mais frequentes.
6. Por último, gostaríamos que deixasse uma mensagem dirigida à comunidade médica, com particular foco nos jovens que agora a integram.
Uma realidade que todos conhecem é o predomínio de mulheres na nossa especialidade. E como estamos a falar do Dia da Mulher dirijo-me a elas em particular. Não desaproveitem todas as conquistas que conseguimos ao longo dos anos! Há uns anos atrás, algumas especialidades eram quase só escolhidas por homens. A pouco e pouco essas diferenças foram-se atenuando e por isso apelo a que não se rendam àquilo que vos parece mais fácil e mantenham as vossas preferências e objetivos.