João Silva Carvalho
Querido Alberto
Meu Bom amigo
Escrevo para ti, sabendo que me vais ler, mas seguro de que não sou capaz de colocar num pequeno texto todos os sentimentos, emoções, memórias, ou simples relato de factos e preciosidades que a tua riquíssima vida me proporcionou. Para meu benefício! Mas não preciso de pôr tudo aqui, porque tivemos incontáveis e prolongadas conversas sobre todos os temas, em Portugal e nas viagens aos Congressos Internacionais, mas de forma muito particular durante os fins de semana maravilhosos que usufruí, por teu amigo e gentil convite, no ambiente de deleite da tua casa nas margens do Zêzere.
Foste um médico e cirurgião de grande capacidade, que sistematicamente colocou em primeiro lugar a visão clínica do doente, numa perspectiva de servir e beneficiar a pessoa que te procurava. Os teus vastos conhecimentos e competência técnica faziam de ti uma referência para os pares, sem “show off”, porque eras cientificamente humilde e de uma honestidade profissional inquestionável.
Ao conhecimento técnico/científico e à competência profissional associavas uma enorme energia e vontade de inovar, progredir e ensinar. Só consigo dizer muito pouco, mas sei que não vais ficar chateado porque conheces bem a amizade e admiração que tenho por ti. Cito apenas de relance, o empenho na fundação da SPEG e as respectivas direcções que conjuntamente integramos; o Congresso Europeu da ESGE (onde a sociedade verdadeiramente nasceu) de que foste Secretário Geral e as direcções dessa Sociedade Europeia que partilhamos; a construção de um modelo inovador, pela 1ª vez com energia eléctrica, para treino de Histeroscopia cirurgica e ressetoscopia; as múltiplas reuniões científicas em cuja organização colaboraste (sempre com um impulso de liderança e uma energia motora de sucessos); as centenas de palestras, moderações, conferências, demonstrações de vídeo-cirurgia, etc., etc., etc., e sei que nada disse!
Bem sabes Alberto, que o que em ti mais me fascina, e disse-te muitas vezes, é esse carácter sólido e impoluto, essa lealdade para com todos e em particular para com os amigos, essa disponibilidade para sempre ajudar, esse respeito pelos outros que te impunha uma humildade que só existe nos verdadeiros aristocratas da essência humana.
Meu querido Alberto, sei que me lês e que me ouves, embora eu não te veja e não te possa abraçar. Não podemos mais falar sobre o futuro, mas deixas aqui, no presente, uma grande dor, uma saudade enorme, mas uma memória grandiosa. E é da memória que vivemos. Sem ela não existimos.
Sei que um dia nos encontraremos e nos voltaremos a abraçar.
Até já
João Silva Carvalho